A janela


27.7.20


Peguei Covid quando ainda não tínhamos vacina.

O coronavírus não cabe na vida.

Com ele não se faz planos, não se estende a mão; é insensível, insolente, implacável. Os momentos são solitários, até que o ciclo se complete.

E pela janela lá se vão dias, noites.

Nessa mesma janela os movimentos aconteciam; compareciam mascarados mantendo distância; viam meu cansaço, ouviam meus lamentos. A esperança e a ternura lhes saltavam aos olhos; queriam me aliviar, ver meu sorriso; mas a alma invadida pelo covid é frágil, introspectiva, vigilante, temerosa.

Na porta do quarto, do lado de fora, depositavam as bandejas recheadas de amor; uma verdadeira força tarefa pra, literalmente, me dar forças, mas pelo meu apetite seleto, esses momentos foram verdadeiros desafios. Ainda me emociono com tanto zelo.

Meus espaços dentro de casa foram delimitados, restritos; na primeira semana, pela fadiga, os dias lá fora não eram convidativos, a cama sim, me abraçava; até que lentamente os ânimos foram retornando, e no quintal, debaixo de um pé de caju, Marcelo, meu amor, colocou uma cadeira pra mim, era quase uma poltrona, e de lá, abrigada pelas folhas do cajueiro, eu o via cuidando do pomar; um cenário que me inspirava e me refazia.

Nesse tempo, mais uma vez o aperto e as incertezas nos rondaram, mas fechamos esse ciclo com o coração repleto de gratidão: A Deus, pelo dom da vida e por sua misericórdia; a essa minha linda família que com tanto amor me carrega, e aos amigos/ irmãos, tão presentes, que de braços dados, com um só coração, me apresentaram diante do Pai.

"Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor. Clamam os justos e o Senhor os escuta." Salmo 34:15 e 18

Deixo a janela.

       

          Paz!