Sem Arrependimentos


27.7.14

                                      

Nos desabafos tenho encontrado pessoas esfaceladas, nocauteadas pela vida. Ouço arrependimentos dos que não conseguiram reconhecer e viver seus papéis, quer seja como parceiro, como pai/ mãe, filho, profissional, irmão, amigo. 

Investiram em um romance, esqueceram a carreira; focados na profissão, descuidaram dos afetos; priorizaram os filhos, abandonaram o cônjuge. 

Desavisados, despreparados, negligenciaram suas valiosas e intransferíveis funções; desatenderam por vezes suas famílias, que é o lugar de maior desafio e zelo. 

Imaginavam que não precisariam de mais nada, mas hoje percebem seus terrenos áridos, com rachaduras profundas. Agora, penitentes, aflitos, desejam recuar.
 
Comportaram-se como quem, já no início de um jogo, entrega todas as cartas; ou como um maestro que fracassou em sua exibição, pois não só se descuidou do tema, mas fixou-se em alguns instrumentos esquecendo-se dos demais. 

Menciono aqui o livro: ”Os cinco principais arrependimentos daqueles que estão para morrer”, da enfermeira Bronnie Ware, especialista em pacientes terminais: 
1- Gostaria de ter tido coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, não a que os outros esperavam. 
Com a progressão da doença surge a necessidade de rever os caminhos percorridos; é comum a descoberta de que, em busca de amor e aceitação, as escolhas foram focadas nos outros, não em si.
2- Gostaria de não ter trabalhado tanto. 
Essa sensação não acontece só com os doentes, é um dilema da vida moderna; se agrava quando a pessoa não gosta do que faz, ganha dinheiro mas é infeliz. 
3- Gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos. 
Quanto mais próximos da morte as máscaras do medo e constrangimento tendem a cair. Tornam-se mais verdadeiros, dizem o quanto amam, pedem desculpas, procuram afetos. 
4- Gostaria de ter mantido contato com meus amigos. 
Nem sempre se tem histórias felizes com a família, mas com os amigos sim, são "a família escolhida"; passaram pelas mais diversas situações, geralmente carregadas de lealdade e cumplicidade; querem, nesse momento, de alguma forma, resgatar essa proximidade. 
5- Gostaria de ter me deixado ser mais feliz. 
Se de alguma forma você se identificou com esses relatos, examine onde você se perdeu; perdoe-se, peça perdão. Valorize e verbalize a importância do outro. Recomece.

            Paz!

    Imagem retirada de: soniaishibashi.blogspot.com

Abandonar as raízes?


12.7.14


Minha filha, Luisa Maranhão Silva, 22 anos, escreveu este texto! 
 "A formação da nossa identidade quando somos crianças é muito complexa! Além dos mil fatores, existem nossos coleguinhas de escola que também estão atordoados procurando saber quem são.
No meio dessa confusão toda, escolhemos uns que se parecem mais com as nossas loucuras e resolvemos caminhar juntos. Mas, como nossas ideias mudam da noite pro dia, uma forma mais sensata de conhecer nossos amiguinhos é adentrando seus lares; como geralmente os filhos são os reflexos dos pais, ver se agrada o provável futuro de nossos amigos é uma forma de diminuir a chance de erros, e aumentar os possíveis anos juntos.
Tudo combinado! Você dorme na casa do fulano, cicrano dorme na sua, a mãe de beltrano faz um lanchinho e todos vão fazer o trabalho de escola naquela casa. Como ainda são pequenos e dependentes, um pai leva, outra mãe busca, e assim vai. Com o tempo você acaba conhecendo a rotina dessas casas; passa a rir das manias do pai de um, os gritos da mãe de outro não te assustam mais, e até mesmo os hobbys da avó parecem te divertir quando não se tem nada de melhor para fazer.
Os anos vão passando e alguns daqueles com quem você passou grandes momentos vão simplesmente ficar pelo caminho; outros caminharão juntos  pelo resto dos seus dias, sendo padrinhos de casamento, de filhos e até fiadores. Uma coisa será sempre a mesma, você pode estar casado, com filhos, que vai continuar chamando aqueles pais dos seus amigos de tio e tia.
O que me parece disso tudo, é que quando somos crianças, por não termos uma personalidade pronta, acabamos tendo que nos apoiar em nossos pais para sabermos quem somos. Mas, infelizmente, com o passar dos anos isso vai mudando, não é que ter uma personalidade formada seja ruim, pelo contrário, mas abandonar a raiz, a base, o berço... isso sim não é nada bom.
Quando nos tornamos universitários, muito bem crescidos, criados e decididos, escolhemos nossos amigos, aliás, irmãos por carga horária, afinal passamos 10 horas do dia juntos, no mínimo por 4 anos; madrugadas estudando, festas, viagens e doidices. Mas no meio de toda essa amizade intensa surge uma interrogação: Você conhece os pais dos seus amigos de faculdade? Provavelmente a parcela que conhece será ínfima; isso parece ser, no mínimo, assustador! Você passa a ter um convívio tão íntimo e intenso com pessoas com quem nunca pisou no tapete da sala da casa ou nem mesmo sonha quem os pariu.
Será que nossos pais, nossas raízes, são fáceis assim de serem substituídos, ao ponto de se tornarem descartáveis em tão pouco tempo? A conquista da nossa identidade anula a presença dos nossos progenitores em nossa vida? Se sim, acho que quero voltar ao jardim de infância...."

Paz!

Imagem retirada de: www.bonde.com.br