"O Senhor, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas." Salmo 18:28
Ele é mestre em dissipar sombras; e pra isso, por
vezes, usa a igreja que é seu corpo. Somos suas mãos, pés, boca.
Tenho sido impactada com quantos têm me
feito bem, me sinto embalada por ações, palavras; minha casa ficou repleta
do sabor e aroma de outras. Tia, primas, amigas, irmãos, supunham minhas
vontades e faziam com que chegassem à minha mesa o amor aos pedaços: bolos,
tortas, curau, coalhada, croissants, sopas; alguém ate propôs: Vamos fazer um
rodízio de sopa, pra que esteja fresquinha todos os dias?
Quatro domingos, seguidos, recebemos um almoço
magnífico da tia Geny e coadjuvantes!
Esse movimento de prontidão aos meus desejos já
começou no hospital. Uma prima me vendo vomitar, sem querer nada, me propôs um
mingau, aceitei o de maisena, então correu pra casa pra fazer, mas lá se lembrou
que nunca havia feito esse, não tinha nem noção; ela trouxe, estava maravilhoso,
devorei, me refez! Comentei que estava perfeito; então contou: "Preparei
de joelhos"! Pedi a Deus pra me ensinar, que você conseguisse comer e que
te fizesse bem. Que delícia esse amor!
Durante a internação ocorreram alguns episódios
inusitados: Um confessou ter decorado um discurso encorajador, mas conseguiu
esquecer tudo; outro chegou aborrecido porque rodou a cidade em
busca de flores, mas como era domingo não encontrou; outra comprou flores, mas
não conseguiu passar com elas pela portaria, fiquei com a foto das flores e um
almoço delicioso que ela trouxe. Teve uma que presenciou meu abatimento no
segundo dia de cirurgia, mas no terceiro dia quando entrou no quarto e viu
minha expressão de alegria, encostou-se na parede e começou a chorar; em
seguida pediu desculpas pelo choro e me explicou, contou que passou a noite aos
pés de Jesus, aflita, clamando por minha vida: “meu choro agora é de regozijo e
gratidão. “Aleluia, Deus me ouviu”! Logo foi embora me preparar uma canja. Essa
amiga, Cristina Nassif, me é um presente; quase todos os dias estava na minha
porta com as mãos e o coração cheios de ternura e delícias; café da manhã com
pão de queijo quente e broa com erva doce.
E no meio de tanta conturbação e
peleja com a bolsa colostômica, a enfermeira Marcela Silvestre sempre vinha,
não importa se às 7:30h, ou às 22:30 h, ou mesmo nos dois horários, bastava
precisar. Tocava-me com complacência, suavidade e destreza.
A tristeza não resiste a tanto
desvelo. Feitos que ficarão na memória.
As palavras que recebo me comovem. Eu, tão pequena,
me sinto gigante nesses olhares; impossível comentar todas elas, mas trago aqui
uma conversa. Minhas irmãs e eu temos um grupo no whatsapp, ali exponho
alegrias, incertezas, dores (por vezes até embrionárias). Iniciei falando que
estava chorando, Márcia então se manifestou: "Tu és gente também,
pode ficar triste e chorar. Isso é previsto. Depois do choro, alivia. E lembra
que logo esses dias serão passado. Passado que serve para gratidão, fé e
dependência crescente de Deus. De alimento para a certeza da nossa impotência e
da fidelidade de Deus. Pode chorar”.
Encerro afirmando o quanto a oração desse povo me
trouxe crescimento e fé, acreditei que seríamos ouvidos: "Os olhos do
Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu
clamor... clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas
tribulações". Salmo 34: 15 e 17
Paz!
Imagem retirada de: FOTOing-Tumbir