Luz nas minhas trevas


28.5.17


      

         "O Senhor, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas." Salmo 18:28  

          Ele é mestre em dissipar sombras; e pra isso, por vezes, usa a igreja que é seu corpo. Somos suas mãos, pés, boca. 
          Tenho sido impactada com quantos têm me feito bem, me sinto embalada por ações, palavras; minha casa ficou repleta do sabor e aroma de outras. Tia, primas, amigas, irmãos, supunham minhas vontades e faziam com que chegassem à minha mesa o amor aos pedaços: bolos, tortas, curau, coalhada, croissants, sopas; alguém ate propôs: Vamos fazer um rodízio de sopa, pra que esteja fresquinha todos os dias?

          Quatro domingos, seguidos, recebemos um almoço magnífico da tia Geny e coadjuvantes!

          Esse movimento de prontidão aos meus desejos já começou no hospital. Uma prima me vendo vomitar, sem querer nada, me propôs um mingau, aceitei o de maisena, então correu pra casa pra fazer, mas lá se lembrou que nunca havia feito esse, não tinha nem noção; ela trouxe, estava maravilhoso, devorei, me refez! Comentei que estava perfeito; então contou: "Preparei de joelhos"! Pedi a Deus pra me ensinar, que você conseguisse comer e que te fizesse bem. Que delícia esse amor!

          Durante a internação ocorreram alguns episódios inusitados: Um confessou ter decorado um discurso encorajador, mas conseguiu esquecer tudo; outro  chegou aborrecido porque rodou a cidade em busca de flores, mas como era domingo não encontrou; outra comprou flores, mas não conseguiu passar com elas pela portaria, fiquei com a foto das flores e um almoço delicioso que ela trouxe. Teve uma que presenciou meu abatimento no segundo dia de cirurgia, mas no terceiro dia quando entrou no quarto  e viu minha expressão de alegria, encostou-se na parede e começou a chorar; em seguida pediu desculpas pelo choro e me explicou, contou que passou a noite aos pés de Jesus, aflita, clamando por minha vida: “meu choro agora é de regozijo e gratidão. “Aleluia, Deus me ouviu”! Logo foi embora me preparar uma canja. Essa amiga, Cristina Nassif, me é um presente; quase todos os dias estava na minha porta com as mãos e o coração cheios de ternura e delícias; café da manhã com pão de queijo quente e broa com erva doce.  
         

E no meio de tanta conturbação e peleja com a bolsa colostômica, a enfermeira Marcela Silvestre sempre vinha, não importa se às 7:30h, ou às 22:30 h, ou mesmo nos dois horários, bastava precisar. Tocava-me com complacência, suavidade e destreza.

A tristeza não resiste a tanto desvelo. Feitos que ficarão na memória.

          As palavras que recebo me comovem. Eu, tão pequena, me sinto gigante nesses olhares; impossível comentar todas elas, mas trago aqui uma conversa. Minhas irmãs e eu temos um grupo no whatsapp, ali exponho alegrias, incertezas, dores (por vezes até embrionárias). Iniciei falando que estava chorando, Márcia então se manifestou: "Tu és gente também, pode ficar triste e chorar. Isso é previsto. Depois do choro, alivia. E lembra que logo esses dias serão passado. Passado que serve para gratidão, fé e dependência crescente de Deus. De alimento para a certeza da nossa impotência e da fidelidade de Deus. Pode chorar”.

          Encerro afirmando o quanto a oração desse povo me trouxe crescimento e fé, acreditei que seríamos ouvidos: "Os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor... clamam os justos, e o Senhor os escuta e os livra de todas as suas tribulações". Salmo 34: 15 e 17

          Paz!

            Imagem retirada de: FOTOing-Tumbir


Acredito no amor


21.5.17


Ainda na travessia que trouxe semana passada.

No hospital orava a palavra, segura de que por sua benevolência seria ouvida: Isaías 30:15 "Porque assim diz o Senhor Deus, o Santo de Israel: Em vos converterdes e em sossegardes, está a vossa salvação; na tranquilidade e na confiança, a vossa força." 

Mesmo com um convite quase diário à dor, fui envolvida em amor por muitas pessoas, e de uma forma bem especial pelo meu marido e filhos. Nos dias de internação então, foram incansáveis, me cercaram de muito carinho, entendi como uma forma de me aliviar, proteger.

          Aconteceu um episódio fatídico no hospital: Os três passaram a noite toda sentados: um em uma poltrona, e os outros dois na cama do acompanhante; tive uma descompensação urinária das 22 h até às 5 h da manhã, fiquei fazendo xixi de 10 em 10 minutos; o filho que estava na poltrona passou a noite colocando a comadre em mim, o zelo era tanto que até tentava aquecê-la; o outro filho, prudentemente, resolveu avaliar a quantidade de urina; foram 4 litros nessa madrugada.

Entre eles havia um movimento fraterno de lealdade e cumplicidade, se for pra se exaurir, que sejam os três, ficaremos ruim juntos! Amanhecemos bem cansados. Ao mesmo tempo a prontidão deles me descansa.

Minha filha, minha flor, mesmo perdendo aula, permaneceu comigo 10 dias, bem junto, disse que não entregaria meus cuidados a ninguém; ela, como sempre, dedicada e diligente, foi entender, esmiuçar, o uso da bolsa colostômica, uma peleja pra diminuir os erros e desconfortos. 

Meu marido vem me acalmando, e com ternura aplacando a minha dor; mesmo falando tão pouco, tem-me ensinado na paciência, alegria e gratidão.

Em fé vamos nos refazendo.

Sinto-me amparada, acredito ainda mais no amor; é fato que nosso se revigorou em meio a dor; cônscios de que: "O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta." 1 Coríntios 13:7

Paz!







Como se não houvesse amanhã...


16.5.17


Dia 06/04/17 fui submetida a uma cirurgia emergencial em função de uma diverticulite aguda, com perfuração intestinal e pus na cavidade; foi retirado parte do meu intestino e coloquei uma bolsa de colostomia; por pouco não houve grande complicação.

Aguardo o tempo da cirurgia de reversão do meu intestino.

Meus filhos, três, moram em outra cidade, dois vieram rapidamente; o outro precisou vir pouco depois; esse, no outro dia da cirurgia, comovido, me contou do receio de me perder, que já sentia saudades.

Dias de sombras.

Quem sabe qual será sua última manhã?

Alguém me perguntou se tive medo de morrer, respondi: Parece que esá tudo certo: Com Deus, mesmo conhecendo o melhor e o pior de mim, resolveu me amar, ponto final. Meu marido, meu grande amor,, nunca disfarcei o brilho que tenho nos olhos quando o vejo. Meus filhos sabem quanto me fazem feliz, plena; meus melhores dias são com eles. Minha família são presentes, cuidadores, sensíveis; os amigos, a maioria, apesar das minhas falhas, escolhem me acolher.

Penso que por onde passei dei o melhor de mim.

Amei muito, ri demais, dei colo, segurei a mão, abracei sem medida, nunca  escondi meus prazeres; também briguei, fui dura, chorei, me curvei, voltei atrás, consolei, acreditei...

Vivo relances de fraqueza e força; um tempo de escalada íngreme. E sem argumentações, vieram lições, muitas, dentre elas: “É preciso amar como se não houvesse amanhã”.

Paz!


Imagem retirada de: walpapers download