Ainda
lembro o início de tudo: gestações, chegadas, inseguranças, entusiasmos... éramos
estreantes.
Como
não sabíamos o jeito certo de cuidar íamos arriscando; parecia simples, quase
tudo previsível: Colos sem fim, abraços, mãos dadas, cautelas, (especialmente
nas palavras). Mesa posta na hora certa, banhos festivos com canções, soninho
com o bico e uma fraldinha. O acordar era convidativo.
Com
o tempo já sabíamos o que queriam, e o que era essencial.
O
desassossego praticamente se restringia às madrugadas varadas pelas insistentes
febres de garganta.
As
estações foram mudando, com elas os choros. Algumas vezes por não querer ir
dormir, outras pelo brinquedo que estragou. Os emburramentos por ter que ir tomar
banho, ou parar a brincadeira em função da escola.
Eram
ricos nos aprontamentos; num descuido, com apenas algumas tesouradas ela fez a
franja desaparecer. O outro lavou a cuequinha no vaso sanitário. Certa vez
marcaram toda a parede branca da área externa da casa com as mãos repletas de
barro, claro que tiveram de lavá-la. Anoiteceu e aquela parede parecia não ter
fim, que tribulação.
De
outra feita a rebeldia culminou em uma fuga coletiva; o mais velho, com uns 10
anos, indignado com a correção por desobediência, decidiu ir embora e convidou
os irmãos, um de 6 e a outra com 4 anos, todos toparam, pegou na mão deles, um
de cada lado e saíram, deixei ir; atravessaram a rua, sentaram-se no meio-fio
do outro lado, uns 15 minutos; logo percebeu que fez uma escolha complicada e
retornou com os aliados.
As
dores dos tombos de bicicleta e as cicatrizes logo começaram a surgir.
Evitávamos
aborrecimentos, mas enfrentávamos todos. O sim e o não eram parte. Resistíamos
firmes nos limites, em especial naquilo que de alguma forma nos parecia
complicador ou incoerente com os valores que imprimíamos: “O temor do Senhor
era o princípio de todas as coisas”.
Normalmente
as conversas eram muitas, outras vezes era pra ser "daquele jeito",
pronto, acabou, assunto encerrado!
Fomos
conduzindo e sendo conduzidos, não existiam planos, simplesmente íamos fazendo.
Nada muito dificultoso, um jeitinho aqui outro ali e as coisas se resolviam: O
chapéu e uns remendos na roupa da festa junina; o tênis que já apertava; a
persistência pela troca da mochila gasta por uma nova de rodinhas, que aliás
rendeu pano pra manga, a bolsinha com as canetas de brilho que tinha
desaparecido, e por ai vai.
As
necessidades e os assuntos foram mudando, então surgiram reuniões internas
importantes, com pautas programadas, imprescindíveis.
O
amor e cuidado se mantinham.
E
o tempo voa!
Hoje
cada um deles tem seus arrochos distintos, e nós, mesmo impactados, não mais
conseguimos alcançar seus desagrados ou desafios; impotentes, permanecemos aqui
os assistindo.
Geramos
com eles seus sonhos. Trazemos nosso amor em forma de oração, para que sejam
guardados, tenham paz, força, alegria, e que em tempo algum aquele velho e
determinante princípio desvaneça.
Paz!