O princípio


30.11.14



  

Ainda lembro o início de tudo: gestações, chegadas, inseguranças, entusiasmos... éramos estreantes.

Como não sabíamos o jeito certo de cuidar íamos arriscando; parecia simples, quase tudo previsível: Colos sem fim,  abraços, mãos dadas, cautelas, (especialmente nas palavras). Mesa posta na hora certa, banhos festivos com canções, soninho com o bico e uma fraldinha. O acordar era convidativo.

Com o tempo já sabíamos o que queriam, e o que era essencial.

O desassossego praticamente se restringia às madrugadas varadas pelas insistentes febres de garganta.

As estações foram mudando, com elas os choros. Algumas vezes por não querer ir dormir, outras pelo brinquedo que estragou. Os emburramentos por ter que ir tomar banho, ou parar a brincadeira em função da escola.

Eram ricos nos aprontamentos; num descuido, com apenas algumas tesouradas ela fez a franja desaparecer. O outro lavou a cuequinha no vaso sanitário. Certa vez marcaram toda a parede branca da área externa da casa com as mãos repletas de barro, claro que tiveram de lavá-la. Anoiteceu e aquela parede parecia não ter fim, que tribulação.

De outra feita a rebeldia culminou em uma fuga coletiva; o mais velho, com uns 10 anos, indignado com a correção por desobediência, decidiu ir embora e convidou os irmãos, um de 6 e a outra com 4 anos, todos toparam, pegou na mão deles, um de cada lado e saíram, deixei ir; atravessaram a rua, sentaram-se no meio-fio do outro lado, uns 15 minutos; logo percebeu que fez uma escolha complicada e retornou com os aliados.

As dores dos tombos de bicicleta e as cicatrizes logo começaram a surgir.

Evitávamos aborrecimentos, mas enfrentávamos todos. O sim e o não eram parte. Resistíamos firmes nos limites, em especial naquilo que de alguma forma nos parecia complicador ou incoerente com os valores que imprimíamos: “O temor do Senhor era o princípio de todas as coisas”.

Normalmente as conversas eram muitas, outras vezes era pra ser "daquele jeito", pronto, acabou, assunto encerrado!

Fomos conduzindo e sendo conduzidos, não existiam planos, simplesmente íamos fazendo. Nada muito dificultoso, um jeitinho aqui outro ali e as coisas se resolviam: O chapéu e uns remendos na roupa da festa junina; o tênis que já apertava; a persistência pela troca da mochila gasta por uma nova de rodinhas, que aliás rendeu pano pra manga, a bolsinha com as canetas de brilho que tinha desaparecido, e por ai vai.

As necessidades e os assuntos foram mudando, então surgiram reuniões internas importantes, com pautas programadas, imprescindíveis.

O amor e cuidado se mantinham.

E o tempo voa!

Hoje cada um deles tem seus arrochos distintos, e nós, mesmo impactados, não mais conseguimos alcançar seus desagrados ou desafios; impotentes, permanecemos aqui os assistindo.

Geramos com eles seus sonhos. Trazemos nosso amor em forma de oração, para que sejam guardados, tenham paz, força, alegria, e que em tempo algum aquele velho e determinante princípio desvaneça.

 

Paz!



Contracultura


23.11.14


     
Resolvi em um dos grupos que frequento conversar sobre as Bem-Aventuranças; estão inseridas no Sermão do Monte.

Elucidei que pra Jesus ter se preocupado em trazê-las, devem ter caráter especial. Tentei esmiúça-las. Confesso minha  perplexidade diante de tamanha riqueza.

Em meio aos estudiosos do Sermão do Monte, um menciona ser esse o texto mais conhecido, apesar de ser o menos compreendido e praticado.

Mateus 7: 28 e 29 conta que: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas”.

É fato que exibem seu caráter, Jesus possui todas elas. Tem poder pra falar! 

A questão é que se somos seus seguidores, necessitamos nos parecer com Ele; e esses atributos também precisam nos caracterizar.

“Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos; e ele passou a ensiná-los, dizendo:     Bem-aventurados os humildes de espirito, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. Bem-aventurados os limpos de coração porque verão a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós”. Mateus 5 : 1 a 12

Levantei os seguintes pontos:

- Jesus traz um padrão ético, uma contracultura. Seu cerne está nas atitudes, e não em conhecimento.

- Ele exalta traços impopulares, como a humildade e a mansidão, inversos ao homem natural e aos valores impregnados na sociedade.

- Com esse descortinar e confrontação, devemos desejá-las ardentemente.

- Não podemos escolher algumas, mas buscar todas. São completas e se completam.

- Precisamos orar, não apenas para tenhamos compreensão desse modo de vida, mas, especialmente, para que Ele nos capacite a perpetrá-las.

- Somos incapazes de vivê-las pela nossa própria força; mas unicamente através da ação do Espirito Santo.  

 

Paz!

Imagem retirada de: novotempo.com 


 

Rumo à paz


9.11.14


Quero sugerir pensamentos que levantam, trazem saídas, comunicam entusiasmo; mas tenho visto uma pressão contrária a quase tudo que demonstre esperança ou alegria.
Lendo matérias do jornalista Carlos Alberto Di Franco, percebi essa mesma queixa  como parte de seu desassossego.
Separei frações de um dos seus textos, presumindo que suas ideias venham trazer, neste momento intranquilo e pesado que temos vivido, caminhos novos e especiais:
 “Impressiona o crescente espaço destinado à violência nos meios de comunicação, sobretudo no telejornalismo... a violência, por óbvio, não é uma invenção da mídia. Mas sua espetacularização é um efeito colateral que deve ser evitado. Não se trata de sonegar informação. Mas é preciso contextualizá-la. O excesso de violência na mídia pode gerar fatalismo e uma perigosa resignação. Não há o que fazer, imaginam inúmeros leitores, ouvintes, telespectadores e internautas. Acabamos, todos, paralisados sob o impacto de uma violência que se afirma como algo irrefreável e invencível. Assiste-se aos arrastões nas avenidas, praças e marginais como parte do cotidiano das cidades sem segurança. Não pode ser assim. Podemos todos - jornalistas, formadores de opinião, estudantes, cidadãos, enfim - dar pequenos passos rumo à cidadania e à paz... mesmo em épocas de crise (e estamos vivendo uma importante crise de segurança pública) é preciso não aumentar desnecessariamente a temperatura... O que eu quero dizer é que a complexidade da violência não se combate com espetáculo, atitudes simplórias e reducionistas, mas com ações firmes das autoridades e, sobretudo, com mudanças de comportamento...
Precisamos, ademais, valorizar editorial e informativamente inúmeras iniciativas que tentam construir avenidas ou vielas de paz nas cidades sem alma. É preciso investir numa agenda positiva. A bandeira a meio pau sinalizando a violência sem-fim não pode ocultar o esforço de entidades, universidades e pessoas isoladas que, diariamente, se empenham na recuperação de valores fundamentais: o humanismo, o respeito à vida, a solidariedade. São pautas magníficas. Embriões de grandes reportagens.
          Denunciar o avanço da violência e a falência do Estado no seu combate é um dever ético, mas não é menos ético iluminar a cena de ações construtivas, frequentemente desconhecidas do grande público, que, sem alarde ou pirotecnias do marketing, colaboram, e muito, na construção da cidadania...” 
Felizmente estão se multiplicando as iniciativas da promoção humana, pessoas têm se mobilizado em direção ao outro com uma preocupação social.
Sugiro portanto que ofereçamos menor tempo e espaço aos tabloides repletos de fatalidades, e que, dia após dia, com mentes limpas e corações sensíveis, saiamos ao encontro de gente que necessita da gente; vá só ou convide outros, mas envolva-se; não se preocupe com o que você tem a oferecer, apenas vá...  

Paz!

Imagem retirada de: www.oraculosweb.com br

Bastam dois


2.11.14


            O evangelho de Lucas nos relata sobre dois discípulos que estavam a caminho de uma aldeia chamada Emaús que ficava a 11km de Jerusalém. Conversavam cheios de decepção e angústia sobre os fatos sucedidos recentemente.

O Messias tinha sido morto e com Ele toda a crença de vida e de um reino melhor.

“Aconteceu que enquanto conversavam e discutiam o próprio Jesus, ressurreto, se aproximou e ia com eles. Os seus olhos, porém, estavam como que impedidos de o reconhecer. Então lhes perguntou Jesus: Que é isso que vos preocupa, e de que ides tratando à medida que caminhais? 

E eles pararam entristecidos... um porém respondeu:

 És o único, porventura, que, tendo estado em Jerusalém, ignoras as ocorrências destes últimos dias? Eles lhes perguntou: Quais? 

E explicaram...                                                               

Jesus então lhes disse: porventura não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras.“ Lucas 24:13 a 35

Essa caminhada, aparentemente carregada de fracasso e desilusão, nos traz alguns ensinamentos: 

- Não estamos sós. O texto menciona que aqueles discípulos estavam como que impedidos de ver. Costumeiramente a ansiedade nos cega. 

- Jesus quer nos ouvir; conte a Ele sua história. 

- Não há nada que não possa fazer, aliás, Ele tem o controle sobre todas as coisas. 

- A Palavra tem o poder de aquecer o coração e resgatar a alegria; é assim que Ele faz com aqueles discípulos: “Porventura não nos ardia o coração quando ele pelo caminho nos falava, quando nos expunha as Escrituras?“ 

Convido-os a comemorarmos o Jesus que não se limita a multidões pra comparecer. 

 

Paz! 

Imagem retirada de: www.youtube.com